Virando o feitiço
Certa vez viajando por companhia áerea portuguesa, entre Lisboa e Genebra, à hora da refeição a bonita comissária perguntou-me sobre vinhos a escolher. Se queria um branco, comum com o peixe; ou o tinto, para o “fiambre”, como dizia. Nação de pescadores, fui pelo peixe português. Servido, voltou a moça e repetiu a pergunta: deseja qual vinho, senhor?
De fato não poderia lembrar (ou esqueceu de anotar), de tantos passageiros, entretanto a lógica me pareceu distinta, porém novamente respondi: o branco, como me sugeriu para o peixe, senhora.
E aí a resposta desconcertante: “Lamento, senhor. Brancos não temos.”
Comentei com minha esposa, que de fato havia uma lógica distinta. Se não havia os brancos, qual a razão da pergunta ?
Que remetia à terrível piada, brasileira sobre imigrantes portuguêses, donos de uma padaria. E certo dia um cliente novo pede um pingado com pão, mas sem manteiga. A demorar, quando o cliente reclama, o senhor dono do estabelecimento pede mil desculpas e informa, “lamento, pode ser um pão sem margarina, pois estamos sem manteiga?”
Mas hoje meu caro amigo E. Abouchar, espero que em breve saindo de sua carapaça cética e se entregando à política comunal, por ser seguramente seu destino, enviou-me o que denominam a piada do momento em Portugal.
Dizem os lusitanos a lógica brazuca ser complexa, por ser o único país do planeta onde para a obtenção de passaportes, carteiras de identidade, para casar-se, ter emprego etc. ser requerido o título de eleitor.
Porém não é pedido ou válido para sua função básica: votar.
De fato, nessa palhaçada imensa, a requerer um outro documento para votar-se, além do próprio título, não havia a rigor temor de fraudes (bem complexo, com as assinaturas requeridas, comparáveis no ato) mas um sujo truque político, no qual a situação burramente se envolveu, a complicar o processo e fazer milhares de eleitores não votassem, por faltar-lhes algum documento.
E curiosamente aliados os “golpeiros” com o STF, que após o processo ser desta forma há mais de 20 anos elogiado mundo afora apesar de compulsório, achou que mais um documento, com foto, é essencial...
Ficou a piada, a costumeira falta de seriedade do STF e, claro, a esperteza de alguém que com esse golpe burocrático, alterou talvez um tantinho o resultado esperado...
Se fossem eleições livres (não são, somos obrigados a elas), nada disso seria necessário.
Nem a piada, que agora nos persegue.