O fim dos fazendões?
Em uma rapidíssima visita à Tunísia, o guia nos explicou que era um país pacífico, relativamente; com um governo "estável", o atual presidente está no comando já faz 23 anos... Seu antecessor por mais tempo ainda.
Tunis, a capital, de fato parece uma mescla do sul da França com interior do Piauí, com bistrôs e burricos, alguma pobreza.
Muito quente no verão e a 1 hora de vôo de Roma, é um balneário para os italianos e franceses, com seus hotéis ao longo da costa.
Um pouco de azeite e azeitonas produzidas, essências para perfumes, alguns minérios e carne de cabra, mas no cômpito geral um país pobre. No modelo fazendão, à la Coréia do Norte ou Cuba, com dirigentes hiperautoritários e egoístas; e o resto do planeta claramente desinteressado no que por lá ocorre.
Ao fim de uma volta por uma tal Cidade Azul e Cartago, o guia nos explicou o maior artigo de exportação da Tunísia serem os jovens, mais de 30.000 por ano se evadem clandestinamente para a Europa, pelo meios mais esdrúxulos. Médicos trabalhando como auxiliares de enfermagem, por exemplo, pela Itália. Engenheiros sem qualificação como colhedores de uvas, mas em geral recebendo melhor que no país do presidente Sein al-Abidin Ben Ali.
Por onde o desemprego já ronda os 30%, entre os mais novos principalmente.
Na saída do porto em direção à Itália, eu ávido pelas paisagens se descortinando, após estabelecer-se o desinteresse geral e eu quase só observar o mar, vi uma barca de uns 10 metros da polícia tunisina, com uns 10-12 jovens acocorados na proa e rebocando um grande bote inflável.
Com o qual tentariam atravessar nesse dia tão calmo os 200 km de mar até a Sicília, para um emprego. Policiais e jovens com o olhar apenas resignado. Há um acordo de ajuda financeira da Itália ao tunisinos para "resgatarem" os jovens barqueiros... A polícia faz seu teatrinho, a justificar a verba enviada. Principalmente ao lado do nosso grande navio, italiano.
Hoje leio que o sistema de administração do fazendão Tunísia, pelo, digamos, semi-ditador, está vindo abaixo, os jovens resolveram tomar a situação em suas mãos, enfrentando a polícia, incendiando ônibus e protestando com fervor contra a opressão de uma país que exporta miseráveis e importa turistas, em forte descompasso.
Querem reformas, são assim.