Os varzeanos
As moças do saudoso bairro ultra-paulistano, a Várzea da Barra Funda, aos domingos, saíam com as roupas iguais, achavam bonito.
Pejorativamente moças vestidas com roupas similares eram conhecidas como "varzeanas", já que a Barra Funda era reduto de imigrantes pobres, menos afeitos a procurar vida nababesca. Modestos enfim, mais ávidos pela diversão e bom viver longe das agruras na difícil Itália do que procurar progresso e sucesso.
Talvez também uma variante paulistana dos costumes árabes concentrados no vizinho Cambuci, lusitanos da Moóca e Santana; e italianos, por toda parte: as mulheres, viúvas ou não, vestiam-se (vestem-se) de preto com lenços na cabeça. Todas iguais.
Os homens e mulheres têm disso, o medo de dissociar-se, portanto lá vão os trajes idênticos ou similares. Mesmo nos novos grupos a se formarem, como os emmos, a primeira medida: roupas e cabelos similares.
A união faz a força. Quem se veste à maneira individual e dissonante: maluco!
Ou, a grande exceção, mulheres em ocasiões excepcionais. Se a roupagem é a mesma, algumas ou se evadem ou se cobrem.
Lembro, padrinho de casamento de um já saudoso amigo. O outro casal de padrinhos surge, a senhora com um estranho casaco sobre os ombros e olhar raivoso. Minha patroa, menos afeita a essas bobagens do trajar, rindo baixinho.
Os vestidos eram os mesmos, das madrinhas.
Razões dúbias portanto, antropologia de botequim, mas a moda tem a ver com isso, procurar estar inserida/inserido. Não se diferenciar.
E deixar um tanto misteriosa a beleza, a descobrir. Afinal a moda é para isso: embelezar-nos ou cobrir aquilo que menos nos agrada.
Frans e eu nos ajustamos nisso em solidariedade às pobres imigrantes ou suas filhas: agora somos os varzeanos do Pacaembu!
Como é bairro vizinho e complementar à Barra Funda, nada de errado.
Só ciumei que a camisa dele está menos desbotada e melhor passada...
Sou assim.