A Hipótese Lacaniana
Depois de um almoço muito agradável e desfecho surpreendente na companhia daquela ilumina meu caminho, com tanta luz, repasso aqui alguns trechos de livro recém-lançado, A Hipótese Lacaniana, de Jairo Gerbase ( 2011, Campo Psicanalítico).
Fascinantes os apanhados, de escrita concisa, compreensível ao interessado leigo, entre os quais talvez, modestamente, me incluo.
À página 17, traz a explicação tanto procuram os eventuais pacientes. Cite-se:
”O sintoma é a razão da existência da psicanálise. É verdade que há atos falhos, sonhos, chistes, poesia, todos eles formações do inconsciente, mas somente pelo sintoma alguém demanda uma análise.”
Sem sintomas, nada de análise. Matemático.
Me restou uma duvidazinha: todos têm sintomas dessa ordem, sem exceção. O que fazer para resolvermos tantos assuntos?
Desesperador...
Mais adiante, página 25, encontra-se:
”É desse modo que o sujeito justifica ficar na mesma posição de Hamlet, ao adiar um ato. Hamlet encarna perfeitamente bem aquilo que Freud designou de Zweifel, dúvida.”
Penso ser o mal do século XXI, a procrastinação continuada, insolúvel.To be or not to be.
O que ser? O que fazer? Como fazer? Deixar de fazer? Onde fazer?
Novamente, torna-se claro todos somos acometidos dessas dúvidas, as Zweifel. Porém em alguma escala, curiosamente entre os jovens muito protegidos, em excesso talvez, surge o sintoma, paralisante. Na dúvida, nada ocorre, nada se faz, o status quo é o cotidiano imutável. Pânico às mudanças.
Como resolver?
Na página 52 leva isso adiante: “Às vezes o sujeito psicótico parece duvidar. Duvidar é um valor indicial da neurose. A dúvida é neurótica, e a certeza psicótica. “. Quem psicótico, como na charge, se apresenta sendo Napoleão, está convencido ser o imperador. Já o neurótico, pensa: será que posso ser como Napoleão?
Assim o almoço, e seu desfecho: a vida em seus aspectos da mente, que tanto ocupam a esses verdadeiros salvadores, os analistas, surpreende.
Aprendo que algo dito por terceiros, até com parcimônia e cuidado, revelar ao ouvinte aquilo lhe é inconscientemente mais caro e sensível poder ser incorreto, é inadmissível. É suprimido, com força. Com ódio a quem o diz, mesmo se a esse inconsciente. É o pior: o conflito dos inconscientes.
Ouvir o que não pode ser? Jamais.
E aí a mágica da doutrina, fico estarrecido. Todos sensíveis a ela, pois somos assim.