Sim, Tomáz!
Certo amigo com o nome segundo ele sintomático de Tomáz (sim, Tomáz!) me conta jovenzinho ficava muito entretido em olhar nuvens. De fato é recorrente.
”Seriam os tais sintomas?” pergunta, interessado nos assuntos da mente humana.
Não saberia eu responder, isso ser coisa para anos de estudos e prática de grandes especialistas.
Porém fui adiante e descobri o pai do sujeito ponderava certa restrição a tipos aos quais denominava: “Hans-guck-in-die-Luft”. Pejorativo em alemão para quem seria um tipo “avoado”, de baixa concentração.
Traduzido ao pé da letra como “João-olhos-aos-céus”. E que de tempos em tempos assim denominava o filho, por talvez não aparentar esse toda a concentração o pai acharia necessária.
Perguntei-lhe se isso incomodava.
Um pouco, seria como a figura jamais levá-lo a sério em seus compromissos ou desejos. Às vezes, em falhas cometidas, continuava com a frase, esse pai: “E o que será de si?”, sem esperar resposta.
Pensativo, lembrou Tomáz adulto ter restrições aos tipos de baixa concentração, impontuais, divagadores e pouco precisos, porém tal não chega a incomodar. Seria mais tolerante que o pai, já falecido.
Atualmente havia, a justificar adorar olhar nuvens, desistido até de certo alento ao pragmatismo, imaginando caminho para vida mais suave, verificando o assunto tão em voga nos dias atuais. Comenta questões como corrupção, hipocrisia, mentiras e política não o incomodarem mais, pontos chave do atual pragmatismo.
Entretanto a pergunta inicial desse personagem me deixou intrigado. O que poderia levar o sujeito a indagar desconcentração e impontualidade, traduzidas no tranqüilo observar das nuvens, ser um sintoma psíquico, a o incomodar talvez?
Lembrei que Tomáz falava bastante desse pai, piloto combatente na Segunda Grande Guerra. E a paz, a fuga bem-sucedida do inimigo, ser escapar para dentro de grandes nuvens, quando perseguido por aviões mais rápidos e bem armados. Não havia radares em aeronaves, portanto tornava-se assim indetectável.
O céu azul sem nuvens, desejado em tempos de tranquilidade, seria temeroso naquelas circunstâncias. Sem possibilidades de evadir-se.
Assim sendo, olhar as nuvens poder-se-ia traduzir como, de pai para filho, a procura de um tantinho de paz, a refugiar-se nelas...
Entretanto a crítica paterna a quem assim o faz, em não entendendo o filho também procurar nuvens metaforicamente para se esconder e ter um pouco de sossego, imaginava-o desconcentrado, seguindo a historieta infantil do João-olhos-ao-céus, a tropeçar pela vida terrena, por desatento. E mais: para o piloto a desconcentração e a impontualidade são fatais...
Em tempos de guerra, desatentos eram os primeiros a tombar...
Daí o alerta, real, ao filho não ser como o rapaz da fábula alemã.
Concluí não ser um sintoma severo, desconcertante. Apenas algo adquirido pelo não-falar, dizer incompleto ou uso de metáforas, essas meta-linguagens humanas ainda não desvendamos em grande parte.
E talvez nunca desvendaremos por incompreensíveis a nós.
Somos assim.