Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Louise Bourgeois

Fui à mostra de arte da escultora franco-americana Louise Bourgeois no Instituto Tomie Ohtake (1).

Fascinante, talvez de todas por lá passaram a melhor. Da maneira gosto, bastante soturna e maravilhosamente sarcástica. Tudo que aprecio.

Acompanhado de outra Louise, minha filha Luiza e o irmão, curioso com o livre criar. De peça em peça, e certo temor ou rindo, observar a interação entre suas experiências traumatizantes ou assustadoras e a criação.

Como lenço tecido com a frase –“Estive no inferno e retornei. Foi maravilhoso.” (!)

Ou a grande aranha: Louise descreve sua relação com as imensas peças em bronze a lembrar a mãe, protetora; e a tecer (os pais eram restauradores de tapeçarias) relações, ignorando por alguma conveniência e proteção aos três filhos as escapadas do pai para os braços de amantes.

Encantam as peças, têm substância, em alguns casos leveza. Sem pesada repetibilidade, comum na criação mais moderna como Warhol, Pollock e até Picasso. Se me permitido o comentário.

Enfim: vale a pena.

Louise segue um longo caminho para o reconhecimento como artista, a batalha de toda uma carreira embalada pelas críticas do pai, a denegrir a “arte moderna”. E provocar a estudante de matemática ( ” Só acredito em regras que não podem ser mudadas.” ) a ponto esta abandonar o curso e seguir em outras escolas, somente de arte, desafiando e odiando o pai ( por menina ser testemunha da traição desse com sua tutora inglesa ). E casar-se com um professor americano da matéria e por muitos anos lecionar, em escolas públicas e superiores.

Somente em 1982 a travessia para o rol dos grandes artistas, entretanto ainda preterida, em 1993, pela Academia Real de Arte da Inglaterra na escolha para a mostra de arte americana no século XX.

Persistente, a demorada “Anerkennung” *, seu “Leitmotiv” **, usando das palavras dos analistas discípulos de Freud, com quem se tratou por anos, enfim alcançou.

Alguns procuram por isso a vida inteira.

Somos assim.

(1) Mais em "Instituto Tomie Ohtake".

* Reconhecimento.
** Motivação.

As aranhas da escultora Louise... a lembrar a mãe, tecelã e sua rede de proteção aos filhos.

Pela frases tecidas em lenços finos e a escultura fálica a acompanhar na fotografia, o bom humor parece fazia parte de sua natureza.

Os tecidos e a proteção dos seres queridos, uns aos outros, tema recorrente em sua singela arte.

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- 23/07/2011 (00:07)